sábado, 15 de outubro de 2016

A GRAÇA DE UM PAI AMOROSO



Lucas 15. 24
“Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se”.
Esta parábola foi escrita num contexto em que os pecadores e os publicanos se aproximavam de Cristo para ouvi-lo. Em contrapartida os fariseus e os escribas O questionavam, dizendo, como Jesus poderia recebê-los e comer com tais pessoas.
Cristo lhes propôs algumas parábolas: a ovelha perdida, a dracma perdida e a parábola do filho pródigo, que iremos tratar neste artigo.

Teria esta parábola, sido nomeada erroneamente pelo seu tradutor? Pois o foco principal do texto não foi no filho que partiu, quanto menos no que ficou. Na verdade o texto evidencia a relação amorosa e incondicional que o pai estabelece com ambos os filhos.
Ela se divide em três partes, a saber:
  1. O filho que partiu;
  2. O filho que ficou;
  3. O pai amoroso.
O FILHO QUE PARTIU
A distância entre o filho e o pai amoroso.
Os versículos que seguem narrando à ida do filho, se compõem de duas fases, na primeira veremos quando o filho se distancia do pai e na segunda, seu retorno e arrependimento.
Na separação, o filho mais novo pede a sua parte da herança a seu pai. Lembrando que, conforme o costume da época, o filho primogênito recebia dois terços da herança, enquanto o filho mais novo recebia apenas um terço, se caso houvesse mais irmãos o filho caçula receberia ainda menos.
O pedido de herança pelo filho mais novo era ofensivo, representava a separação entre os membros da família, esta exigência era considerada como uma morte entre os familiares – Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado. E começaram a festejar. (Lucas 15:24). 
Já com sua herança em mãos partiu para uma terra distante, provavelmente Roma ou Antioquia (Era costume dos jovens mais ricos irem a estes lugares em busca de diversão), e desperdiçou seus bens, esbanjando de maneira inconsequente. Era um judeu solitário em um país estranho e distante, sem dinheiro e quem o pudesse socorrer. Com poucas alternativas para sua subsistência, lhe resta apenas a opção de apascentar porcos, trabalho indigno para um judeu, uma vez que porcos eram considerados animais imundos e não poderia tocá-los. Tamanha a fome que desejava alimentar-se das alfarrobas que os porcos comiam, demonstrando o quanto era degradante a sua situação naquele momento.
Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna”. (Gl 6:8)
Estes acontecimentos nos mostram uma humanidade distante de Deus e o tamanho do prejuízo causado por viver em seus delitos e pecados. Pois é isso que o pecado faz com o ser humano, nos distancia da presença do Pai, nos prende cada vez mais às concupiscências da carne, nos levando a destruição e por fim a morte (Rm 6:23).
A segunda fase nos narra o arrependimento deste filho.
No v. 17 – “Então, caindo em si”, nos mostra o primeiro passo rumo ao arrependimento, depois começa a refletir no tratamento que recebia quando estava na casa do pai e entende como o pai se relacionava com ele.
As circunstâncias que se encontrava não foram os motivos reais do arrependimento, até porque, o único sentimento que atuava em seu intimo era de culpa, pois quando declara que pecou contra o céu, ou contra Deus, ele demonstra que ao sair de casa e magoar profundamente o seu pai, afligiu uma lei de grande importância para um judeu, a de honrar o pai. E somente ao se deparar com o abraço amoroso dele é que se arrepende verdadeiramente.
O arrependimento é a forma para nos aproximar do Pai e da Vida Eterna.
“Arrependa-se dessa maldade e ore ao Senhor. Talvez ele lhe perdoe tal pensamento do seu coração” (At 8:22);
“Arrependam-se, pois, e volte-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados, para que venham tempos de descanso da parte do Senhor, e ele mande o Cristo, o qual lhes foi designado, Jesus”. (Atos 3:19, 20).
Muitos ao se arrependerem acabam cometendo um erro grave de não ter a atitude de sair de sua zona de conforto e confrontar o orgulho, ir ao encontro daqueles que ofendeu e pedir perdão pelos seus atos. Outros se arrependem, porém voltam a cometer os mesmos erros, não se tratando de um verdadeiro arrependimento, pois deve provocar uma mudança de pensamento ou de caráter (metanóia). Devemos lembrar que o arrependimento é a principal exigência para que haja perdão dos pecados. “Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mateus 9:13).
O FILHO MAIS VELHO
Um relacionamento entre um pai amoroso e o outro filho perdido
“Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se”.(Lucas 15:7)
Exatamente desta forma que o filho mais velho se sentia. Justo, legalista, sem erros, cumpridor exímio dos mandamentos.
 O seu comportamento diante da noticia que seu pai promovia uma festa pela volta do seu irmão, nos demonstra revolta. Começa então uma lista de acusações e insultos direcionados a ele, revelando que por mais que ele se achava tão correto, nada o diferenciava de seu irmão mais novo.
 Vejamos alguns termos proferidos pelo filho mais velho:
  • “há tantos anos te sirvo”, dizia literalmente “tenho trabalhado como escravo há tantos anos”, ou seja, tudo que fazia e praticava era por obrigação. Não era próximo de seu pai, não tinha intimidade entre pai e filho. Por mais que estava ao lado de seu pai, não o conhecia.
  • “Jamais transgredi uma ordem sua”, este trecho declara que por ele ser um filho legalista, obediente as regras e leis, era melhor que seu irmão, por conseguinte, seu irmão não merecia tamanha consideração, devido a tantos delitos cometidos.
  • “Nunca me deste um cabrito”. Na comparação que faz entre o cabrito e o bezerro (lembrando que o bezerro era bem mais caro) ele reafirma que era mais merecedor que seu irmão, diante a tudo que ele fazia. Era cheio de autopiedade.
O filho mais velho compreendia que a recompensa do relacionamento entre ele e seu pai seria por mérito próprio, pois cumpria todas as regras ordenadas, era fiel as leis e se esforçava para manter a fazenda produzindo. Acreditava fielmente que seu pai o valorizava somente por tais coisas.
O grande problema do cristianismo protestante deste século é achar que será recompensado pelas suas obras e por se manter “fiel”. Acreditam que com seus próprios esforços conquistarão o grande objetivo. Por isso temos uma grande quantidade de crentes frustrados que buscam por algo que nunca conquistam. Muitos destes estão depressivos dentro de suas igrejas, ou, tão irados que chega ao ponto de aderir o ateísmo como crença. Filhos perdidos.
“Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie”. (Efésios 2:8, 9)
 O PAI AMOROSO
O pai amoroso e seus dois filhos perdidos
“Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se”. (Lucas 15:24)
Como um pai poderia continuar amando esses filhos? Como não poderia se sentir frustrado diante de tantas decepções, e não desistir destes filhos que tanto erraram? Pelo contrário, ele os tratou ainda melhor, com mais atenção e carinho.
Vejamos a maneira que tratou seus filhos:
O pai e o filho mais novo:
 Mesmo com tamanha ofensa, o abandono do lar, ter desperdiçado tudo que tinha herdado e transgredir as leis de Deus e do pai, ele se assusta quando assisti o pai vindo ao seu encontro, pois reconhecia que não seria mais considerado um membro da família.
O pai corre ao encontro do filho, abraça e beija – uma demonstração visível de amor e humildade. Ele pede aos seus servos para pegar a melhor roupa (reservada para um convidado de honra), colocar um anel no dedo (representando a filiação, pois só membro da família usava anel), sandálias nos pés (demonstrando que era um homem livre. Os escravos tinham suas sandálias removidas até serem livres, assim recebiam novas sandálias) e o melhor bezerro, que era preparado para ocasiões especiais e convidado de honra. Fazia parte da família novamente.
 O pai e o filho mais velho:
 Ao se informar sobre a festa que seu pai estava oferecendo para seu irmão, ele tem uma mistura de sentimentos como orgulho, egoísmo, ego e mágoa.
Começou uma série de ofensas e acusações direcionadas ao homem que, mesmo diante de tantas palavras ofensivas, o tratou da mesma forma que o filho mais novo. Foi ao seu encontro, conversou humildemente e o convidou para festa. Comportou-se com o mesmo amor. Mesmo assim não resulta nenhum ato de arrependimento da parte do filho.
CONCLUSÃO
 A relação entre os irmãos nos deixa claro que, quando o irmão mais novo pediu a sua parte da herança criou uma divisão entre eles, que perdurou por muitos anos, exemplo disso foi a atitude do irmão mais velho em relação à comemoração pela chegada do que estava perdido. Ele se sentia no direito do melhor diante de tudo que fazia pelo pai, enquanto seu irmão esbanjava em outro país.
Ambos os filhos são considerados perdidos e necessitados do amor incondicional do pai, pois a filiação não se baseia no ato dos filhos, mas no amor do pai, que não mediu esforços para ir ao encontro deles.
Jesus ao mencionar esta parábola aos fariseus, quando estava com os pecadores, declarava que o amor do Pai não se atribuía na atitude, no esforço ou na benevolência da humanidade, mas em Sua graça, que procura e sofre a fim de salvar.
Esta parábola nos leva a reflexão que precisamos ser achados pelo Pai e nos regozijarmos no Seu imenso amor. Ter consciência que Ele não se agrada de nossas atitudes pecaminosas e sentimentos ofensivos, que só servem, senão para nos destruir e afastar do grande amor do Pai. Que nós Cristãos, cheios de justiça própria, egocentrismo, venhamos nos juntar aos pródigos e a Cristo para esta festa alegre, que ele preparou para os que ele encontrou.
Que o Senhor Jesus possa vos encontrar, vos abraçar e por fim amar, trazendo para o aprisco, festejando o grande dia do Senhor na eternidade.
Roberto Viana
Bibliografia
  • Comentário Bíblico Broadman/ Tradução de Adiei Almeida de Oliveira e Israel Belo de Azevedo. — Rio de Janeiro: JUERP, 1983—12v. (Vol. 09; p. 152-155);
  • Morris, Leon L. Série Cultura Bíblica Vida Nova – Lucas Introdução e Comentário – l.a edição: 1983 Reimpressões: 1986, 1990, 1996, 1997, 2000, 2005, 2006, 2007; (p. 225-230);
  • Comentário Bíblico Moody – Lucas (p. 70-72);
  • Bailey, Kenneth A Poesia e o Camponês. Uma analise literário-cultural das Parábolas de Lucas (1985, p. 208-256);
  • Bíblia de Estudo de Genebra, 2ª ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; São Paulo: Cultura Cristã, 2009. 1984 p. (p. 1348, 1349);
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