Ainda recentemente participei de
uma discussão no Facebook com vários de meus amigos onde uma moça aborreceu-se
com alguns comentários feitos a um terceiro (não por mim, garanto!) e
retirou-se zangada, dizendo que Jesus havia ensinado que não se deviam julgar
os outros.
Eu sei que existem situações em que
julgar é realmente errado, mas aquela não era uma destas situações. A pessoa
que estava sendo "julgada" tinha feito declarações e expressado suas
opiniões e os outros simplesmente estavam avaliando e rejeitando as mesmas. A
atitude da mocinha, que ficou sentida, ofendida e magoada, é infelizmente comum
demais no meio evangélico moderno, onde as pessoas usam as famosas palavras de
Jesus de maneira errada como argumento em favor de que devemos aceitar tudo o
que os outros dizem e fazem, sem pronunciarmos qualquer juízo de valor que seja
contrário.
Mas, foi isto mesmo que Jesus
ensinou? A passagem toda vai assim:
"Não julgueis, para que não
sejais julgados.
Pois, com o critério com que
julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos
medirão também.
Por que vês tu o argueiro no olho
de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me
tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?
Hipócrita! Tira primeiro a trave do
teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.
Não deis o que é santo aos cães Não
deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para
que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem." (Mateus 7:1-6)
Alguns pontos ficam claros da
passagem.
1) O que Jesus está proibindo é o
julgamento hipócrita, que consiste em vermos os defeitos dos outros sem
olharmos os nossos. O Senhor determina que primeiro nos examinemos e nos
submetamos humildemente ao mesmo crivo que queremos usar para medir e avaliar o
procedimento e as palavras dos outros. E que, então, removamos a trave do nosso
olho, isto é, que emendemos nossos
caminhos e reformemos nossa conduta.
2) Em seguida, uma vez que
enxerguemos com clareza, o próprio Senhor determina que tiremos o argueiro do
olho do nosso irmão. O que ele quer evitar é que alguém quase cego com um
tronco de árvore no olho tente tirar um cisco no olho de outro. Mas, uma vez
que estejamos enxergando claramente, após termos removido o entrave da nossa
compreensão e percepção, devemos proceder à remoção do cisco do olho de outrem.
3) Jesus faz ainda uma outra
determinação no versículo final da passagem (verso 6) que só pode ser obedecida
se de fato julgarmos. Pois, como poderemos evitar dar nossas coisas preciosas aos cães e aos porcos
sem primeiro chegarmos a uma conclusão sobre quem se enquadra nesta categoria?
Visto que é evidente que Jesus se refere a pessoas que se comportam como porcos
e cães, que não vêem qualquer valor no que temos de mais precioso, que são as
coisas de Deus. Para que eu evite profanar as coisas de Deus preciso avaliar,
analisar, examinar e decidir - ou seja, julgar - a vida, o comportamento e as
declarações das pessoas ao meu redor.
Fica claro, então, que o Senhor
nunca proibiu que julgássemos os outros, e sim que o fizéssemos de maneira
hipócrita, maldosa e arrogante. Julgar faz parte essencial da vida cristã.
Somos diariamente chamados a exercer o papel de juízes movidos por amor pelas
pessoas e zelo pelas coisas de Deus.
Quem nunca julga contribui para que
o erro se propague, para que as pessoas continuem no erro. São pessoas sem
convicções. Elas se tornam coniventes e cúmplices das mentiras, heresias e atos
imorais e anti-éticos dos que estão ao seu redor. Paulo disse a Timóteo,
"A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de
pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro" (1Tim 5:22). Não consigo
imaginar de que maneira Timóteo poderia cumprir tal orientação sem exercer
julgamento sobre outros.
Em resumo, julgar não é errado,
cumpridas estas condições: a) que primeiro nos examinemos; b) que nos
coloquemos sob o mesmo juízo e estejamos prontos para admitirmos que nós mesmos
estamos sujeitos a errar, pecar e dizer bobagem; c) que nosso alvo seja ajudar
os outros a acertar e consertar o que porventura fizeram ou disseram.
Rev. Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: O Tempora! O Mores!
- See more at: http://tempora-mores.blogspot.com.br/2011/07/e-proibido-julgar.html